GRAFITES: ARTE DEMOCRÁTICA E INCLUSIVA DEIXAM SÃO PAULO AINDA MAIS COLORIDA.
- forumfdc
- Apr 27, 2022
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Reportagem: Caroline Rossetto
São Paulo é uma cidade democrática. E a arte prova que tem espaço para todo mundo. Considerada uma arte inclusiva, o grafite é parte do espaço público e que todos os cidadãos merecem ter acesso. O arquiteto formado pela FAAUSP e doutor em demografia, Anderson Kazuo Nakano, explica um pouco sobre o grafite enquanto arte urbana: “Esse ato de inscrever letras e figuras em superfícies dos lugares onde se vive não é atual. Se você pensar em pinturas rupestres, nas paredes das cavernas da pré história, isso já é um ato humano, de inscrição e demarcação de um lugar, com expressões humanos. Isso é de milhares de anos atrás. Nas cidades egípcias, já existiam os murais, em grandes escalas, em culturas africanas, as pessoas já faziam esses grafismos nos muros e nas construções, nas culturas asiáticas, já existiam essas práticas de decorar superfícies da cidade, com pinturas, letras e ideogramas. Em Pompeia, na Roma Antiga, é conhecida por suas inscrições nas paredes. Aliás, essa palavra grafite, vem de um termo da antiguidade, chamado estilofe, que se referia a uma ferramenta parecida com um estileto, que era utilizada para fazer esses sinais e incisões e riscos nas paredes. Essa ideia do grafite, tinha uma relação com isso”, conclui. Kazuo acredita que é do ser humano fazer marcações dos lugares do qual se vive e convive. Em 2020, durante a quarentena, a cidade de São Paulo viveu uma explosão de novos murais e grafites do Centro Histórico de São Paulo, de artistas badalados e reconhecidos internacionalmente. “Eu acho que sempre me chama a atenção, sabe? Minha formação é Arquitetura e Urbanismo e minha primeira iniciação científica foi sobre grafite e pichação. Minha professora de história da arte me orientou. Desde 1990, me chama a atenção e desde lá. E eu sempre quis entender o que eram esses grafites e essas pichações na cidade. Eu via isso como uma prática urbana e espacial, uma experiência urbana dos jovens artistas e não só experimentar a cidade e o espaço urbano, mas comunicar a sua presença para o outro, um grupo e pares e também a sociedade em geral”, completa. Kazuo cita alguns dos maiores artistas urbanos do mundo: “Hoje você OsGemeos, o Kobra, fazendo esses grafites em prédios em grandes dimensões, chamando atenção para o mercado internacional. São Paulo é uma das cidades com o maior acervo de arte urbana, junto com Berlim. Acho que isso é uma das práticas das grandes cidades, que merece ser discutido e trabalhado”, afirma. Um dos maiores questionamentos do grande público é a diferença entre grafite e pichação. Anderson explica: “Pichação não é a mesma coisa do que grafite. Até hoje não vejo a institucionalização da pichação em museus, galerias e bienais de arte como o grafite tem. Até os próprios grafiteiros e pichadores têm discutido sobre essas diferenças desde 1990. Tem pesquisador da ECA que organizou um acervo de grafite e excluiu a pichação porque não reconhecia como uma manifestação artística. Ele via essa manifestação através de cores, figuras e desenhos. Essa discussão me chama muito a atenção. Existe uma legislação que criminaliza a pichação, devido a violação do direito à propriedade . A pichação tem uma dimensão política que questiona determinadas propriedades privadas”, relata. Os grandes murais que surgiram em São Paulo retratam temas como desigualdade social, pobreza e diversos assuntos que podem ser amplamente discutidos. Este projeto foi realizado com o apoio da 5ª edição do Programa Municipal de Fomento ao Serviço de Radiodifusão Comunitária para a Cidade de São Paulo.

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